Tinteiro #014: Espionagem, Ozark, fiordes e banjo, muito banjo
A newsletter desta semana pesca alguns títulos não muito novos de Ang Lee e Bruce Springsteen, e dá uma folheada no Nobel de Liberatura 2023
Salve, queridagem! Vi tantos filmes ruins e séries marromenos nos últimos dias que não me atrevo a comentá-las com vocês, dada a confiança em mim depositada. A intenção aqui é compartilhar impressões sobre coisas que, eu acho, possam de alguma maneira diverti-los, e não irritá-los (embora o risco esteja aí, rondando…). Portanto, só velharia no Tinteiro desta semana, mas velharias que, imagino, valerão sua atenção. Vamonos!😉😘
UM FILME
MICROSSINOPSE: Atriz de teatro universitário ganha papel ousado na China ocupada pelos japoneses na década de 1940: seduzir até a morte um político chinês que colabora com os invasores.
EU ACHO QUE: o título “Desejo e perigo” (Ang Lee, 2007) não ajuda muito, mas é um belo filme de espionagem, ambientado na China durante a Segunda Guerra Mundial, sensual, de atmosfera noir e condução classuda do maestro Ang Lee.
ONDE VER: “Desejo e perigo” está disponível no Prime Video.
UMA SÉRIE
MICROSSINOPSE: Cansado de lavar dinheiro para bandidos do mercado financeiro, contador com cara de banana decide lavar para bandidos de cartéis de droga, mas terá de dividir os louros com golpistas caipiras, traficantes sanguinários e políticos corruptos. E, se der, ainda manter unida sua família.
EU ACHO QUE: “Ozark” (2017-2022, 44 episódios) foi comparada a “Breaking bad” por motivos equivocados. Há, sim, o plot da família tradicional americana se atolando em crime até o pescoço, mas a trama tem sua identidade, e os personagens, brilho próprio.
*ONDE ASSISTIR: “Ozark” está disponível na Netflix.
UM SOM
Bruce Springsteen nunca teve no Brasil o prestígio que tem nos Estados Unidos, peculiaridade que divide com Bob Dylan. Talvez porque a potência de sua música seja amplificada pelas letras, crônicas de uma América real e prosaica, barreira óbvia para nós, falantes da língua de Machado. “The Boss” é um dos maiores nomes da canção norte-americana em todos os tempos e um profundo conhecedor de suas raízes. Em 2006, prestou tributo a uma de suas grandes influências, o ativista, cantor e compositor folk Pete Seeger. “We shall overcome: The Seeger sessions” é, para mim, top 5 na discografia do tio Bruce, repleto de instrumentos tradicionais - banjo, bandolim, acordeom, metais. Eu daria três rins para ter assistido a um dos shows daquela espetacular, curta e irrepetível turnê.
QUER EM VÍDEO? TENTE NÃO SAIR DANÇANDO AO SOM DO CHEFE E SUA GANGUE NO FESTIVAL DE JAZZ DE NEW ORLEANS, 2006.
UM FRAGMENTO
“… e então entra no corredor e as antigas paredes se postam ao redor dele e dizem alguma coisa, como sempre fizeram, ele pensa, é sempre assim, não importa se ele nota e pensa a respeito ou não, as paredes estão lá, e é como se vozes silenciosas falassem a partir delas, existe um grande silêncio nas paredes e esse silêncio diz coisas que jamais podem ser ditas em palavras, ele sabe disso, ele pensa, e existe uma coisa por trás daquelas palavras que é dita constantemente, que está no silêncio das paredes, ele pensa, e ele fica lá parado olhando para as paredes, o que haverá com ele hoje?
Extraído do romance “É a Ales”, do escritor norueguês Jon Fosse, ganhador do Prêmio Nobel em 2023, que recomendo (mas só àqueles adeptos a narrativas intrépidas e febris, que fazem da repetição uma hipnose e do ritmo um delírio, que se fiam nas conjunções e não fazem lá muita questão do sinal gráfico “ponto final”).
UM MICRORRELATO
Bruninho assalta qualquer comércio pequeno que puder invadir. E não importa se Santa Cruz ou Industrial, salão de beleza ou lojinha de celular: só rouba quatrocentos reais por vez, nem mais, nem menos. É que Bruninho entende que o crime não presume mediocridade e alguma obra autoral o homem precisa deixar nesse mundo.
W. Del Guiducci, 14/06/2024
CRONIMÉTRICAS
Assim começa a crônica desta semana na “Tribuna de Minas”:
“Outro dia um homem com cabeça de peixe descia a Alameda Prefeito Francisco Antônio de Mello Reis ouvindo um rádio de pilha. Trazia o transistorizado bem junto à cabeçorra, entre a guelra e o olhão arregalado. Embora meu interesse ictiológico se resuma a aspectos gastronômicos dos peixes, me parecia ser uma cabeça de tilápia. Mas como não avalio as pessoas pelo formato de suas cabeças e mais pelo que vai dentro delas, dei pouca importância à questão anatômica. ”
O restante você pode ler neste link.
🔊Se preferir escutá-la na voz deste que vos escreve insistentemente, é só clicar aí abaixo e será redirecionado para o player.
POSTEI E SAÍ CORRENDO
É preciso exterminar sem piedade a instituição contemporânea “lavar a louça ainda mastigando a última garfada do almoço”.
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Menino, ia comentar semana passada, e me perdi no tempo, que amei Gojira. Aliás, prefiro o dos japoneses. O Isac (meu parceiro) me apresentou o de 54. E tá cheio de série ruim mesmo, mas já viu Iluminadas (Elizabeth Moss e Wagner Moura)? A Laís me indicou uma que amei tbm: Pagan Peak (a alemã/austríaca). Vai que vc curte. Beijão grande :)