Tinteiro #009: 'Problema dos 3 corpos' e um viva para Maeve Jinkings
Da China a Londres, série da Netflix anuncia o fim do mundo, enquanto numa cidade do interior brasileiro a hipocrisia redunda em crueldade
Salve, gente bonita! Chegou o carteiro com mais uma edição do Tinteiro para seu prazer e deleite (ou não). Comentem, mandem mensagens, deem sugestões: aqui pau que dá em Chico também bate em Francisco!😉😘
UM FILME
MICROSSINOPSE: família pobre abre espaço para abrigar traficante dado como morto e prova que nesse mundo tem coisa pior do que bandido procurado.
EU ACHO QUE: em 10 de maio de 2024 Maeve Jinkins é a grande estrela do cinema brasileiro, como comprova sua atuação em “Carvão” (Carolina Markowicz, 2023). Contido, o filme é brilhante ao retratar a hipocrisia e o mal na exuberância da sua trivialidade. (E o molequinho [Jean de Almeida Costa] é brabo demais.)
ONDE VER: “Carvão” está disponível na Globoplay.
UMA SÉRIE
MICROSSINOPSE: cansada de apanhar da vida, chinesa decide oferecer ao Planeta Terra a imperdível oportunidade da eutanásia global pelas mãos de extraterrestres 👽.
EU ACHO QUE: “O problema dos 3 corpos” (2024) é uma série de ficção científica que causa bastante desconforto. A ideia do autoextermínio, do anseio pela morte diante da falência da humanidade, imprime sobre todos os episódios uma aura incontornável de pessimismo.
ONDE ASSISTIR: “O problema dos 3 corpos” está disponível na Netflix.
UM SOM
Um dos muitos privilégios que a vida com o Martiataka tem me proporcionado ao longo dos anos é tocar com bandas fodas. São artistas que estão fora do circuito comercial, sem o devido reconhecimento ou, pelo menos, sem o merecido alcance para que se diga “gostei” ou “ah, é uma merda”. Vou aproveitar esse espaço para, de vez em quanto, apresentar algumas dessas bandas. Uma das minhas prediletas é de São Paulo e atende pelo nome de Thrills and the Chase. O último disco deles saiu em 2023 (“Thrills after dark”), mas permitam-me apresentar o primeiro, de 2017, “Original monday night soundtrack”.
QUER EM VÍDEO? AÍ O CLIPE DE “A SPECIAL PLACE IN HELL” 😈.
UM FRAGMENTO
Como usar a BOLA MAPA-MUNDI
Com uma das mãos, abrindo e fechando todos os dedos, aperte e desaperte a BOLA MAPA-MUNDI.
Use o marcador de cor preta para circundar o antigo império português. Repita PORTUGAL É O CENTRO DO MUNDO, até acalmar-se.
Poderá também lançar a BOLA MAPA-MUNDI ao ar.
Ou chutá-la com um dos pés.
Porque, como você sabe, depois da colonização, veio o futebol.
Para todas as idades.
🌎Poema extraído do livro “O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial”, da escritora portuguesa Patrícia Lino, que recomendo (mas só àqueles que não crispam diante do poema-piada e tampouco torcem o nariz para generosas lapadas de ironia sem rima, cujo alvo preferencial é a soberba eurocêntrica em relação à gente que habita o baixo ventre global).
UM MICRORRELATO
Zé Maria tem visto o pai todas as noites. Ele entra no quarto, senta-se ao lado do filho e coloca a mão sobre seu corpo, como fazia para acordá-lo quando criança. A diferença é que, naqueles tempos de escola, as unhas do Seu Altivo não estavam sujas de terra. O Zé nem liga mais, mas não vê a hora de chamar um padre pra benzer a casa. Está só esperando o cadáver do velho parar de feder sob as tulipas que plantou no quintal.
W. Del Guiducci, 01/07/2015
CRONIMÉTRICAS
A crônica desta semana na “Tribuna de Minas” começa assim:
“Meus amigos estão quebrando.
Estão tendo ataques de pânico do nada nos botequins do São Mateus. Levantam-se depressa, suados, touros que são para beber e comer, dizendo que precisam ir, sem explicar exatamente o motivo – até porque não sabem mesmo – e vazam.
Estão quebrando quando têm tudo de que precisam, quando já não trabalham tanto, quando têm uma vida estável e sem solavancos, com casa, dinheiro, saúde, mulher, cachorro e filhos. Ainda assim estão quebrando.
E acordam com o chumbo da noite pressionando seu peito, olhos arregalados divisando fantasmas nas sombras do teto.”
O restante você pode ler neste link.
📢 Se preferir escutá-la na voz deste proletário da palavra, é só clicar aí abaixo e será redirecionado para o player.
POSTEI E SAÍ CORRENDO
Há poucas coisas mais desumanizantes do que a banalização do termo “humanizar” pelos coleguinhas do marketing de afeto corporativo.🖕
Tinteiro é uma newsletter gratuita. Se você acha que esses escritos podem agradar, irritar ou ter variada serventia a outras pessoas, repasse-os. Este escrevente agradece.
Oi, Del! Abaixo o afeto corporativo. Me comovem seus comentários sobre o Thrills. Tocar com o Martiataka foi certamente uma das melhores experiências que já tive na banda. Dado que a Rock Tropeiro Tour está para comemorar 10 anos, acho que deveríamos cogitar algum tipo de celebração. Fica aí a ideia. Grande abraço!