Tinteiro #005: 'Io Capitano': é preciso ter força, é preciso ter raça pra encarar
O pesado concorrente italiano ao Oscar, a brabíssima série "Cães de Berlim" e uma crônica em formato de áudio (porque o rádio não morre jamais)
Olá, brava gente brasileira! Chegou sua nova edição do Tinteiro! Com uma novidade: o link para minhas Cronimétricas na “Tribuna de Minas” AND… a versão em áudio da crônica da semana. Aturem o tostão da minha voz! E mandem mensagens, estou esperando, que a rua aqui é de mão dupla! Arriba!
UM FILME
MICROSSINOPSE: A odisseia de Seydou e Moussa, contra a sordidez dos homens e a natureza implacável, para deixar o Senegal 🇸🇳 e chegar à Itália 🇮🇹.
EU ACHO QUE: “Io Capitano” (Matteo Garrone, 2023) nos confronta com uma realidade sobre a qual sabemos e para a qual nos recusamos a olhar em minúcia. A cada ser humano abjeto que esses meninos cruzam, seus sonhos vão sendo destruídos; sua coragem, posta à prova; e seu espírito… resistirá inteiro?
ONDE VER: “Io Capitano” está na Mubi.
UMA SÉRIE
MICROSSINOPSE: Kurt e Erol são policiais encarregados de solucionar o assassinato de uma estrela do futebol, encarar mafiosos turcos e vagabundos neonazistas e, se der tempo, impedir a explosão de uma guerra racial. Isso tudo sem deixar de levar o cachorro pra passear 🐕.
EU ACHO QUE: “Cães de Berlim” (2018) é uma série sensacional por tudo que aborda: os problemas étnicos na Alemanha, os problemas éticos da polícia e os problemas tétricos da relação entre apostas esportivas e o submundo do crime.
ONDE ASSISTIR: A (inexplicavelmente) única temporada está disponível na Netflix.
UM SOM
Esse número de Tinteiro foi escrito ao som do novo disco de Marcus King. Fui lá esperando um tirambaço de southern rock e dei de cara com um banquete de soul music. Sob a batuta do produtor Rick Rubin, King, exímio guitarrista, crooner encantador, mergulhou fundo em suas referências da música negra americana dos anos 60/70 - que já deixava entrever em trabalhos anteriores - e trouxe à tona esse lânguido “Mood swings”. Saca lá e depois me conta.
QUER EM VÍDEO? AÍ O MARCÃO DEBULHANDO A VOZ, O PIANO E A GUITARRA NO JIMMY FALLON MÊS PASSADO.
UM FRAGMENTO
Só pensei nisso na cama. Só então senti que os olhos de prima Justina, quando eu falava, pareciam apalpar-me, ouvir-me, cheirar-me, gostar-me, fazer o ofício de todos os sentidos. Ciúmes não podiam ser; entre um pirralho da minha idade e uma viúva quarentona não havia lugar para ciúmes. É certo que, após algum tempo, modificou os elogios a Capitu, e até lhe fez algumas críticas, disse-me que era um pouco trêfega e olhava por baixo; mas ainda assim, não creio que fossem ciúmes. Creio antes... sim... sim, creio isto. Creio que prima Justina achou no espetáculo das sensações alheias uma ressurreição vaga das próprias. Também se goza por influição dos lábios que narram.
Extraído do capítulo XXII de “Dom Casmurro”, de um certo Joaquim Maria Machado de Assis, que recomendo (mas só àqueles que se deixam tremer em regozijo diante da colossal genialidade da expressão humana).
UM MICRORRELATO
Quando a grande rocha onde se acocorava o Cristo Redentor subiu para o espaço sideral, arrasando os condomínios do cinturão da riqueza na Cidade Alta e fazendo rolar pedras imensas sobre o Colégio Academia - algumas chegaram até o Paraibuna -, houve grande comoção no município. Pelos próximos dias, os jornais trataram o evento como a maior tragédia da história de Juiz de Fora. Dentro de duas semanas, entretanto, a vida retomou seu curso normal, e muitas pessoas comemoram agora o fato de o sinal de telefonia móvel e a internet 4G finalmente funcionarem a contento em toda a extensão da Avenida Olegário Maciel.
W. Del Guiducci, 15/01/2017
CRONIMÉTRICAS
Minha crônica desta semana na Tribuna de Minas, em que conto como abracei um monte de gente na rua numa quinta-feira, pode ser lida aqui neste link.
Maaaassssss… se você preferir escutá-la, é só clicar aí abaixo.
⚠️Como isto é teste, não sei se você ouvirá aqui no e-mail ou se será enviado para a versão deste post lá no site. Em breve saberemos (é quase certo que explodir não vai!).
POSTEI E SAÍ CORRENDO
“… percebo hoje que a maioria dos jovens escritores da atualidade tem mais a ganhar do que a perder se cursar uma faculdade, no mínimo porque professores e colegas formam uma plateia cativa para seu trabalho; não há nada mais solitário do que ser aspirante a artista sem algo que lembre uma plateia.”
Truman Capote, em 1969, no texto “Uma voz saída das nuvens”, do livro “Os cães ladram”
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Demais!!Sacando o som indicado..muito foda!!e a história do morro do Cristo..kkkkkk...demais!!!
Amei essa versão em áudio!!! Reforço o que já disse, faz um podcast de contos…seria maravilhoso em minhas horas de estrada… ☺️