Tinteiro #004: 'Holy Spider' tá na Netflix e, ó...
Assassino de mulé-dama está em uma cruzada espiritual no Irã, o escrevente descobre de onde veio o hit "Valerie" e se você ainda não assistiu a "O Urso", olha...
Olá, gente braba! Chegou sua nova edição do Tinteiro, entregue por este jornaleiro que vos tecla. Espero que seja de alguma utilidade e divertimento. Aguardo mensagens de vocês!
UM FILME
MICROSSINOPSE: A missão de uma jornalista iraniana, de expor os crimes de um assassino de adeptas do meretrício, torna-se mais difícil à medida que ele passa a ser visto pela comunidade como um justiceiro espiritual.
EU ACHO QUE: “Holy spider” (Ali Abassi, 2022) é um filme de serial killer interessante. A questão aqui não é tentar descobrir quem é o assassino, mas horrorizar-se com o fato de, empanturrada de radicalismo religioso e misoginia fundamentalista, a comunidade passar pano para estrangulador de prostituta.
ONDE VER: “Holy spider” entrou há pouco na Netflix.
UMA SÉRIE
MICROSSINOPSE: Gente boa, o irmão suicida de Carm deixa para ele o amor pela comida, um trauma e uma lanchonete estropiada. Negócio então é botar o avental, largar o status de chef internacional e ralar o bucho na chapa.
EU ACHO QUE: “O Urso” (2022-) começa frenética a ponto de você querer meter o pé daquela cozinha apertada e cheia de gente doida. Mas então as coisas se acomodam, os personagens te conquistam (e não só pelo estômago) e logo você está encantado por aquelas pessoas imperfeitas e lutadoras como tantos de nós.
PS: os melhores minutos da carreira de Jamie Lee Curtis estão no episódio 6 da segunda temporada. Você não vai discordar de mim.
ONDE ASSISTIR: As duas temporadas estão disponíveis no Star Plus.
UM SOM
Se você é meio avoado que nem eu, talvez não saiba que o hit “Valerie”, que possivelmente conhece na voz de Amy Winehouse, na versão feita por Mark Ronson, é na verdade um cover da banda britânica The Zutons. Foi composta pelo cantor do grupo, Dave McCabe, em 20 minutos (diz ele), dentro de um táxi a caminho da casa da mãe. Abaixo segue o álbum que tem “Valerie”, “Tired of hangig around” (2006). Para mim, voador inveterado, um agradável surpresa.
QUER EM VÍDEO? AÍ THE ZUTONS RECEBENDO MARK RONSON NO FESTIVAL GLANSBONBURY (a banda acabou no ano seguinte, e agora voltou, só por causa desta newsletter).
UM FRAGMENTO
entro na cozinha
sento-me e encho um
copo de uísque.
resolvo que a única definição da
Verdade (que muda)
é ela ser a única coisa ou ato ou
crença que a multidão
rejeita.
Extraído do poema “Pessoas como flores”, do livro “As pessoas parecem flores finalmente”, de Charles Bukowski, a quem conheci quando caminhava para o fim da faculdade e sigo lendo, relendo e recomendando (mas só àqueles chegados a narrativas absolutamente mundanas e algo obscenas, e a poemas absolutamente cafajestes e algo desconcertantes).
UM MICRORRELATO
Os policiais acercam-se da porta da cozinha. Dona Zita monta barricada: mesa, cadeira, saco de arroz e botijão de gás, que deixa vazar. Eu explodo, hein! Eu risco fósforo e explodo tudo isso aqui! A polícia negocia. Paciente. Por fim, Dona Zita autoriza a entrada dos homens da lei. No guarda-roupa, maconha, crack, balança de precisão e paçoco de dinheiro. Ela assume a posse e é conduzida à delegacia. Na saída, leva consigo o porta-retratos com a foto de Jônata, neto que só aparece na hora de pedir favor, mas a quem ela ama mais que tudo nessa vida.
W. Del Guiducci, 05/04/2024
POSTEI E SAÍ CORRENDO
“Há um corpo de pesquisas crescente sobre a escrita à mão, demonstrando que quando as crianças aprendem a escrever seus pensamentos à mão nos primeiros anos, passam a escrever e pensar melhor. Na perspectiva da neurociência cognitiva, as conexões corticais positivas entre redes linguísticas e motoras é algo que os escribas e professores chineses conhecem há séculos.”
Maryanne Wolf, no livro “O cérebro no mundo digital”
(E o pessoal preocupado em ensinar a meninada a dar prompt pra inteligência artificial.)
Tinteiro é uma newsletter gratuita. Se você acha que esses escritos podem agradar, irritar ou ter variada serventia a outras pessoas, repasse-os às amizades.