Tinteiro #001
"American fiction", Guy Ritchie, Agustín Fernández Mallo y otras cositas más para seu prazer e deleite
Salve, gente querida! Aqui é seu amigo Del chegando com a primeira edição do Tinteiro. Aí abaixo seguem 3 minutos de escrita temperada com impressões sobre filmes, séries, álbuns e livros que andei visitando e revisitando nos últimos dias. Espero que lhes sirva como boa distração.
UM FILME
MICROSSINOPSE: Romancista negro muito respeitado e pouco lido, que escreve romances considerados não suficientemente negros, porque avesso à exploração dos estigmas negros pela indústria branca, decide escrever um romance estereotipicamente negro e indubitavelmente cínico.
EU ACHO QUE: O filme não faturou o Oscar de melhor roteiro adaptado à toa. De forma leve, lançando mão de ironias e de um elenco da pesada, o diretor Cord Jefferson toca temas sensíveis e bate tanto nos racistas e conservadores quanto nos wokes e na indústria cultural. O livro que inspirou o filme, “Erasure”, de Percival Everett, que nem conheço e já considero pacas, infelizmente não tem tradução para o português.
ONDE ASSISTIR: “American fiction” está no Prime Video.
UMA SÉRIE
MICROSSINOPSE: Morto o Duque de Halstead, sobra para a família uma belíssima propriedade rural. Para a surpresa de quase todos, nos subterrâneos da fazenda está a maior plantação de 🌿maconha 🌿da Inglaterra. Com ela, vêm problemas típicos como gangsters, traficantes e assassinos de diversificadas estirpes.
EU ACHO QUE: Como baba-ovo assumido de Guy Ritchie, não me resta opção senão recomendar “Magnatas do crime”, série que deriva do filme homônimo de 2019. Se o roteiro não é lá essas coisas, a edição sempre esperta e a galeria de personagens adoráveis faz a gente emendar um episódio no outro sem ver o tempo passar.
ONDE ASSISTIR: Na Netflix.
UM SOM
Saiu o novo disco da Norah Jones esses dias, “Visions”. Legal e tal, mas não é o que eu vou sugerir aqui esta semana. Desde 2022, Norah conduziu um podcast chamado “Norah Jones is playing along”, em que ela convidava grandes, médios e pequenos nomes da música para trocar ideia e levar um som. E as músicas que saíam desses encontros estão disponíveis para audição no Spotify. É uma pena que não estejam reunidas em um álbum. Para ouvi-las, eu recomendo digitar na busca do Spotify “Norah Jones is playing along” e usar o filtro “músicas”, e as faixas serão listadas. Aí abaixo vai uma amostra, da dobradinha com Cat Popper.
QUER EM VÍDEO? AÍ, Ó, ELA COM MAVIS STAPLES:
UM FRAGMENTO
“Entre as máximas escritas no muro de Naoshige, há uma que diz, “os assuntos sérios devem ser tratados com leveza”. O mestre Ittei comentou, “os assuntos leves devem ser tratados com a maior seriedade”.
Extraído do epílogo do livro “Nocilla Experience” (2008), o segundo da Trilogia Nocilla, do espanhol Agustín Fernández Mallo, que li recentemente e recomendo (mas só àqueles adeptos de narrativas fragmentadas, não lineares, compostas em boa parte pelo reaproveitamento de outras narrativas, sejam elas literárias, musicais ou cinematográficas).
UM MICRORRELATO
Um caminhão de bombeiros e três viaturas policiais são deslocados para o Bairro Alto dos Passos, de onde partem relatos de confusão generalizada. Os agentes fecham a Rua Dom Viçoso e mergulham na multidão, aparentemente já apaziguada. É noite de Flamengo x Botafogo e todo cuidado é pouco. No epicentro da convulsão, jaz sentada no meio fio a aniversariante do dia, testa cortada por garrafada, rosto mordido pela agora ex-amiga. Confirma que a barafunda teve início em sua mesa, entre o apagar das velas e o acerto da conta, porque não seria ela que pagaria sete caipirinhas se tomara apenas seis.
W. Del Guiducci, 15/03/2024
POSTEI E SAÍ CORRENDO
Extraído de “Latim em pó”, de Caetano W. Galindo:
“As regras de uso de uma língua não podem ser mais determinantes do que o coletivo de seus usuários. Se uma maioria expressiva de falantes se comporta de forma contrária ao que a regra prevê, isso aponta para a necessidade, sim, de alterar a regra e fazer com que ela expresse mais adequadamente os usos da língua na sociedade.”
Edificante